sexta-feira, 30 de maio de 2014

O que é demais também chateia.

Ser desempregado não é ter uma "boa vida". Ter o "privilégio" de poder ficar na cama toda a manhã, só é bom nos primeiros tempos. A verdade é que o descanso eterno, que desejamos quando temos algo que nos ocupa, rápido nos cansa, rápido nos transporta para uma espiral de inutilidade e desmotivação. Não temos o valor que achávamos ter. Afinal, parece que a área que escolhemos para nos formar, e que acreditamos ser importante e necessária, é apenas dispensável, um peso morto. Tudo aquilo que ouvimos nos bancos da faculdade, a mensagem de que somos precisos, que na cultura está o caminho e a salvação, não é mais do que uma grande mentira. Cá "fora" percebemos que aos olhos da sociedade, dos empregadores, não servimos para nada. Nada!
História da Arte é só "algo muito giro", ou que "deve ser muito interessante", não passa disso. Em Portugal, não passa disso. E eu caio na realidade sempre que envio um currículo e não obtenho resposta, ou me respondem dizendo "não, obrigado”.
É óbvio, que rapidamente qualquer pessoa na minha situação, ligada às artes e à cultura ou de uma outra área desacreditada, percebe que tem de se virar para outro lado. Somos muitos na mesma situação, não vale a pena acharmos que somos casos isolados, os desgraçados, os únicos tristes. Somos imensos, e isso é ainda mais preocupante. Bem, como eu dizia, depressa nos apercebemos que a missão Emprego na área em que me formei é uma causa perdida e enveredamos na missão Emprego num sitio qualquer, afinal as necessidade básicas do ser humano, obrigam-nos a isso, a trabalhar para ter dinheiro que, quer queiramos quer não, no nosso Mundo, é um bem  extremamente necessário.
Uns, tal como eu, têm a "sorte" de viverem em casa dos pais, ou seja, de não terem despesas com alojamento e alimentação. Segundo alguns, não nos podemos queixar. Temos cama, comida e roupa lavada, uma vida de sonho, portanto.
A vida que imaginei não passa por viver ad eternum em casa da mãe, nem depender financeiramente dela. Sonhei com outras coisas. Com uma casa minha, com um emprego, com uma independência conquistada e irreversível. Essa vida que sonhei, que me parece tão distante e utópica, não é mais do que um direito de qualquer ser humano. Não é um capricho, não tem de ser um luxo, como tantos nos querem fazer acreditar.
A vida que imaginei, parece-me agora extravagante. Formar-me na área de que gosto, dar o melhor de mim a essa área, ser recompensado (monetariamente e não só) por isso, adquirir, aos poucos, independência financeira, progredir, ter uma casa, família, dedicar-me ao que me faz feliz, ao que amo. Parece simples, mas não é. Pelo menos para mim não tem sido.
Não tenho emprego, nem "um trabalho qualquer", não tenho meios para sobreviver sozinho, tenho cada vez menos confiança em mim, duvido cada vez mais das minhas capacidades. Afinal não sirvo para coisa nenhuma. Para um supermercado tenho habilitações a mais, como licenciado não precisam de mim. É complicado.
Sinto-me cada vez mais perdido. A "vida boa" já não é sequer vida. É uma sucessão de dias, uns atrás dos outros, sem grandes expectativas, porque cansa sair sempre derrotado, sem grandes sonhos, porque para sonhar é preciso acreditar, e eu acredito cada vez menos.



Sem comentários:

Enviar um comentário