Ser desempregado não é ter uma "boa
vida". Ter o "privilégio" de poder ficar na cama toda a manhã,
só é bom nos primeiros tempos. A verdade é que o descanso eterno, que desejamos
quando temos algo que nos ocupa, rápido nos cansa, rápido nos transporta para
uma espiral de inutilidade e desmotivação. Não temos o valor que achávamos ter.
Afinal, parece que a área que escolhemos para nos formar, e que acreditamos ser
importante e necessária, é apenas dispensável, um peso morto. Tudo aquilo que
ouvimos nos bancos da faculdade, a mensagem de que somos precisos, que na
cultura está o caminho e a salvação, não é mais do que uma grande mentira. Cá
"fora" percebemos que aos olhos da sociedade, dos empregadores, não
servimos para nada. Nada!
História da Arte é só "algo muito giro", ou que "deve ser muito
interessante", não passa disso. Em Portugal, não passa disso. E eu caio na
realidade sempre que envio um currículo e não obtenho resposta, ou me respondem
dizendo "não, obrigado”.
É óbvio, que rapidamente qualquer pessoa na minha situação, ligada às artes e à
cultura ou de uma outra área desacreditada, percebe que tem de se virar para
outro lado. Somos muitos na mesma situação, não vale a pena acharmos que somos
casos isolados, os desgraçados, os únicos tristes. Somos imensos, e isso é
ainda mais preocupante. Bem, como eu dizia, depressa nos apercebemos que a
missão Emprego na área em que me formei é uma causa perdida e enveredamos
na missão Emprego num sitio qualquer, afinal as necessidade básicas do ser
humano, obrigam-nos a isso, a trabalhar para ter dinheiro que, quer queiramos
quer não, no nosso Mundo, é um bem extremamente necessário.
Uns, tal como eu, têm a "sorte" de viverem em casa dos pais, ou seja,
de não terem despesas com alojamento e alimentação. Segundo alguns, não nos
podemos queixar. Temos cama, comida e roupa lavada, uma vida de sonho, portanto.
A vida que imaginei não passa por viver ad eternum em casa da mãe, nem
depender financeiramente dela. Sonhei com outras coisas. Com uma casa minha,
com um emprego, com uma independência conquistada e irreversível. Essa vida que
sonhei, que me parece tão distante e utópica, não é mais do que um direito de
qualquer ser humano. Não é um capricho, não tem de ser um luxo, como tantos nos
querem fazer acreditar.
A vida que imaginei, parece-me agora extravagante. Formar-me na área de que
gosto, dar o melhor de mim a essa área, ser recompensado (monetariamente e não
só) por isso, adquirir, aos poucos, independência financeira, progredir, ter
uma casa, família, dedicar-me ao que me faz feliz, ao que amo. Parece simples,
mas não é. Pelo menos para mim não tem sido.
Não tenho emprego, nem "um trabalho qualquer", não tenho meios para
sobreviver sozinho, tenho cada vez menos confiança em mim, duvido cada vez mais
das minhas capacidades. Afinal não sirvo para coisa nenhuma. Para um
supermercado tenho habilitações a mais, como licenciado não precisam de mim. É
complicado.
Sinto-me cada vez mais perdido. A "vida boa" já não é sequer vida. É
uma sucessão de dias, uns atrás dos outros, sem grandes expectativas, porque
cansa sair sempre derrotado, sem grandes sonhos, porque para sonhar é preciso
acreditar, e eu acredito cada vez menos.
Sem comentários:
Enviar um comentário